Você sempre julgou minha capacidade de prever o futuro, mas eu sei que você está ai agora, prestando atenção nas minhas primeiras palavras. Acordei ouvindo Legião e reclamando do sol escandaloso em plenas seis horas da manhã. Não que isso seja realmente muito raro, Legião é uma das nossas bandas preferidas e eu nunca gostei muito de sol quando acordo. Faziam quatro meses sem te ver, nem que de longe, em algum lugar por aqui. Logo eu, que moro tão perto dos teus antigos amigos. Não quero encher o universo de coincidências e fenômenos físicos para explicar esse encontro de hoje. Você estava apenas lá, sentado no ponto de ônibus, esperando a vida passar como sempre.
E eu, sempre tentando seguir em frente carregando sua ausência no porta-malas. Foi assim, numa rua qualquer –que eu passo todos os dias- que eu te vi. E me revi. Naquele exato segundo, com o sol quase escondido atrás da sua beleza que consegue tomar todos os lugares do mundo, eu quis voltar a ser aquela garota de antes. E quis que você voltasse a ser aquele garoto de antes. Ouvi, de longe, você praguejando a minha existência. Eu sempre reaparecia, embora você vendo a vida passar estivesse com um destino muito mais decidido do que o meu, que continuava a procura de qualquer parada momentânea. Talvez te ver seja dar uma ré no tempo e em todos os sentimentos absurdos que envolveram esses dois últimos anos.
Desde o seu amor até o meu. Se ainda resta uma pontinha de qualquer sentimento por mim, você sabe onde me procurar. Nem que seja uma raiva pequena, prestes a sumir. Hoje eu tive certeza de que seria capaz de largar tudo o que consegui sozinha pra conseguir algo com você. Hoje eu percebi o quanto a minha vida tem sido vazia desde aquele 26 de setembro. Ainda sinto o cheiro do seu perfume e enxergo com clareza seus olhos desatentos, sem conseguir enxergar o quanto o meu amor por você saia pelas paredes daquele bar escuro e gritava pela música alta. Se você ainda é o meu você, por favor, me procure. Você sabe onde me encontrar. Nunca sai de dentro de você.
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